Miopatia Endócrina em Cães e Gatos: Causas, Sintomas e Tratamento

Miopatia Não Inflamatória Endócrina em Animais Domésticos: Uma Revisão Científica

Autor: Dr. Roque Antônio de Almeida Júnior – CRMV-SP 23098


Resumo

As miopatias não inflamatórias endócrinas representam um grupo de distúrbios musculares secundários a alterações hormonais sistêmicas, particularmente relacionadas a doenças endócrinas como o hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo e diabetes mellitus. Esses distúrbios podem afetar cães e gatos, resultando em fraqueza muscular, intolerância ao exercício e alterações histopatológicas musculares. O objetivo deste artigo é revisar os principais mecanismos fisiopatológicos, manifestações clínicas, diagnóstico e condutas terapêuticas relacionadas às miopatias endócrinas não inflamatórias na clínica veterinária de pequenos animais.

Palavras-chave: miopatia endócrina, hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo, cães, gatos, patologia muscular




1. Introdução

Miopatias são distúrbios que afetam diretamente a estrutura ou a função dos músculos esqueléticos. Dentre essas, as miopatias não inflamatórias endócrinas constituem um grupo clínico importante, ainda que subdiagnosticado, em cães e gatos. Elas são secundárias a disfunções hormonais e se caracterizam por alterações musculares sem presença significativa de inflamação. Os hormônios tireoidianos, glicocorticoides e insulina desempenham papel essencial na homeostase muscular, e sua deficiência ou excesso podem comprometer o metabolismo e integridade do tecido muscular.


2. Revisão de Literatura

2.1 Miopatias associadas ao hipotireoidismo

O hipotireoidismo canino é uma das principais causas endócrinas de miopatia. A deficiência dos hormônios T3 e T4 provoca redução na síntese proteica, metabolismo basal e condução neuromuscular. As alterações musculares incluem atrofia de fibras do tipo II, degeneração segmentar e acúmulo de mucopolissacarídeos.

Manifestações clínicas: fraqueza, letargia, intolerância ao exercício e, em casos mais graves, miopatia laríngea ou facial.

2.2 Miopatias associadas ao hiperadrenocorticismo (síndrome de Cushing)

O excesso de cortisol endógeno ou exógeno resulta em catabolismo proteico, principalmente nas fibras do tipo II, levando à atrofia muscular. É frequente em cães de meia idade a idosos.

Manifestações clínicas: fraqueza muscular proximal, abdômen pendular, intolerância ao exercício, dificuldade de subir escadas ou saltar.

2.3 Miopatias associadas ao diabetes mellitus

Embora menos comum, a hiperglicemia crônica pode levar a neuropatia periférica e degeneração muscular. Há relatos principalmente em gatos.

Manifestações clínicas: fraqueza nos membros posteriores, plantigradia, perda muscular generalizada.


3. Diagnóstico

3.1 Exame clínico e histórico

A anamnese detalhada com sinais de doença endócrina (ganho de peso, letargia, alterações dermatológicas) deve orientar a suspeita diagnóstica.

3.2 Exames laboratoriais

  • Hormônios T4, TSH (hipotireoidismo)
  • Cortisol basal e testes de supressão/estimulação (hiperadrenocorticismo)
  • Glicemia e insulina (diabetes mellitus)

3.3 Eletromiografia e biópsia muscular

Podem revelar baixa amplitude de ação muscular e alterações histopatológicas compatíveis com atrofia ou degeneração sem infiltrado inflamatório.


4. Discussão

A abordagem das miopatias endócrinas deve considerar a etiologia primária como foco terapêutico. O tratamento de reposição hormonal no hipotireoidismo, uso de trilostano no hiperadrenocorticismo e controle glicêmico no diabetes costumam levar à melhora clínica progressiva. A reversibilidade parcial ou completa das alterações musculares depende da duração da disfunção endócrina e da resposta ao tratamento.

A identificação precoce é essencial para evitar sequelas musculares irreversíveis. A miopatia, embora muitas vezes subclínica, pode ser o primeiro indicativo de uma endocrinopatia subjacente. O uso de exames complementares, especialmente biópsias musculares, pode esclarecer casos atípicos.


5. Conclusão

As miopatias não inflamatórias endócrinas devem sempre ser consideradas no diagnóstico diferencial de animais com fraqueza, intolerância ao exercício ou atrofia muscular. O reconhecimento clínico, aliado ao diagnóstico laboratorial e histopatológico, permite o manejo eficaz e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. A integração entre endocrinologia e neurologia veterinária é fundamental para o sucesso terapêutico.


6. Referências Bibliográficas

  1. Evans, H. E., & de Lahunta, A. (2013). Miller’s Anatomy of the Dog. Elsevier Health Sciences.
  2. Feldman, E.C., & Nelson, R.W. (2014). Endocrinologia e Medicina Interna de Pequenos Animais. Elsevier.
  3. Dewey, C.W., & da Costa, R.C. (2020). Practical Guide to Canine and Feline Neurology. Wiley-Blackwell.
  4. Platt, S.R., & Olby, N.J. (2013). BSAVA Manual of Canine and Feline Neurology. BSAVA.
  5. Chrisman, C.L. (2006). Neurologic Examination and Neuroanatomical Diagnosis. In Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice.

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