🐮 Suplementação na Seca para Bovinos de Corte e Leite: Estratégias Nutricionais para Aumentar a Produção

 


Suplementação Estratégica na Seca: Quando e Como Fazer na Produção de Bovinos de Corte e de Leite

AutoresDr. Roque Antônio de Almeida Junior CRMV 23098
Instituição: FAJ Medicina Veterinária


Resumo

Durante o período seco do ano, a escassez e a baixa qualidade da forragem impõem desafios significativos para a pecuária de corte e leite no Brasil, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais. A suplementação estratégica surge como uma ferramenta fundamental para manter o desempenho produtivo e reprodutivo dos rebanhos. Este artigo revisa os fundamentos técnicos da suplementação na seca, diferenciando as estratégias para bovinos de corte e de leite. São discutidos os tipos de suplementos, momentos ideais de fornecimento, níveis nutricionais recomendados e impacto econômico. O objetivo é oferecer subsídios técnicos para decisões mais eficientes e sustentáveis no manejo nutricional durante a estiagem.

Palavras-chave: suplementação estratégica, seca, bovinos de corte, bovinos de leite, nutrição animal, produção sustentável.






1. Introdução

O Brasil possui um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, com destaque para a produção de carne e leite em sistemas predominantemente a pasto. No entanto, a sazonalidade da produção de forragem nos sistemas tropicais compromete a sustentabilidade produtiva, sobretudo durante a estação seca, quando há diminuição acentuada na disponibilidade e qualidade da pastagem (MENEGHETTI et al., 2019). Nesse contexto, a suplementação estratégica é uma alternativa eficaz para suprir as deficiências nutricionais e garantir a produtividade dos animais.


2. Fundamentação Técnica e Nutricional

2.1. Alterações na pastagem durante a seca

Durante a estiagem, o teor de proteína bruta nas gramíneas tropicais pode cair para menos de 6%, nível insuficiente para manter a atividade microbiana ruminal (NRC, 2016). Além disso, há redução na digestibilidade da fibra e no consumo voluntário de matéria seca, o que impacta negativamente o ganho de peso e a produção de leite.

2.2. Conceito de suplementação estratégica

Suplementação estratégica refere-se ao fornecimento de nutrientes adicionais em momentos críticos do ciclo produtivo, visando manter o desempenho animal, reduzir perdas e melhorar a eficiência econômica do sistema (PAULINO et al., 2008). A escolha do tipo de suplemento depende da categoria animal, objetivo produtivo, qualidade da forragem e estrutura do sistema de produção.


3. Suplementação na Pecuária de Corte

3.1. Objetivos

  • Manutenção ou incremento do ganho de peso.

  • Preparação de animais para terminação no período das águas.

  • Redução da idade de abate.

3.2. Estratégias nutricionais

  • Suplementação proteica (0,1 a 0,3% do PV): indicada para pastagens de baixa qualidade. Melhora a digestibilidade da fibra e estimula o consumo de forragem.

  • Suplementação proteico-energética (0,5 a 1,0% do PV): recomendada para recria ou engorda de maior exigência.

  • Suplementação de terminação a pasto: pode atingir níveis de 1,0 a 1,5% do peso vivo, utilizando fontes energéticas como milho, sorgo ou polpa cítrica.

3.3. Resultados esperados

Estudos apontam ganhos médios adicionais de 400 a 600 g/dia na recria e até 1.200 g/dia na terminação com suplementação adequada na seca (VALADARES FILHO et al., 2021).


4. Suplementação na Pecuária de Leite

4.1. Objetivos

  • Manutenção da curva de lactação.

  • Sustentação do escore corporal e saúde reprodutiva.

  • Redução de custos com volumoso conservado (silagem, feno).

4.2. Estratégias nutricionais

  • Suplementação com concentrado balanceado (dependente da produção de leite): pode variar entre 0,4 a 0,6 kg de concentrado por litro de leite produzido.

  • Utilização de fontes proteicas (farelo de soja, ureia) e energéticas (milho, sorgo).

  • Suplementação mineral específica: correção de deficiências comuns na seca, como fósforo e zinco.

4.3. Considerações práticas

A vaca em lactação apresenta maior exigência nutricional, sendo crucial monitorar consumo, escore de condição corporal e produção diária. O uso de dietas totais (TMR) pode ser vantajoso em sistemas confinados durante a seca.


5. Análise Econômica e Sustentabilidade

Embora o custo com suplementação aumente durante a seca, os benefícios em desempenho animal e retorno produtivo compensam o investimento. A suplementação estratégica permite diluir custos fixos, manter escalas de produção e evitar perdas reprodutivas.

Além disso, práticas bem conduzidas reduzem a pressão sobre a pastagem, melhoram o aproveitamento do recurso forrageiro e contribuem para a sustentabilidade ambiental da pecuária.


6. Conclusão

A suplementação estratégica durante o período seco é essencial para mitigar os efeitos da estacionalidade forrageira nos sistemas de produção de carne e leite. A escolha da estratégia deve considerar as exigências nutricionais dos animais, a disponibilidade de forragem e os objetivos do sistema produtivo. Com planejamento adequado, é possível melhorar o desempenho técnico, a rentabilidade e a sustentabilidade da atividade pecuária.


Referências 

  • NRC – National Research Council. Nutrient Requirements of Beef Cattle. 8th ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 2016.

  • PAULINO, M. F. et al. Estratégias de suplementação para bovinos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, p.244-255, 2008.

  • VALADARES FILHO, S.C. et al. Exigências Nutricionais de Zebuínos Puros e Cruzados – BR-CORTE. 4ª ed. Viçosa: UFV, 2021.

  • MENEGHETTI, V. M. et al. Produção animal em pastagens tropicais na seca: desafios e alternativas. Revista Campo Grande Agropecuária, v.15, p.12-20, 2019.


Dr. Roque Antônio de Almeida Junior CRMV 23098



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