🐠 Anestesia por Imersão em Peixes: Segurança, Técnica e Cuidados Essenciais
📖 Introdução
A anestesia em peixes é um tema cada vez mais presente na rotina da medicina veterinária moderna. Com o aumento do número de tutores que possuem peixes ornamentais e espécies exóticas como pets, cresce também a necessidade de procedimentos cirúrgicos e diagnósticos seguros.
Entre as diferentes formas de anestesia, a anestesia por imersão é a mais utilizada, por ser eficiente, de baixo custo e menos estressante para o animal.
⚙️ O que é anestesia por imersão?
É uma técnica em que o peixe é imerso em uma solução aquosa contendo o anestésico dissolvido, permitindo que o fármaco seja absorvido pelas brânquias e pela pele.
Essa via é ideal, pois evita o uso de injeções e manipulação invasiva, o que reduz o estresse e o risco de trauma físico.
💧 Fisiologia básica
Antes de anestesiar um peixe, é importante compreender como ele respira e metaboliza as substâncias.
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Os peixes absorvem oxigênio pela passagem de água pelas brânquias, onde também ocorre a absorção e eliminação de anestésicos.
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A temperatura da água, o pH e a oxigenação influenciam diretamente na eficácia e segurança do anestésico.
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Águas quentes aumentam o metabolismo e aceleram a indução, mas também elevam o risco de hiperventilação e acúmulo de CO₂.
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Águas frias reduzem o metabolismo, prolongando o tempo de indução e recuperação.
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O pH ideal deve ser neutro ou levemente alcalino (7,0–7,8).
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⚗️ Principais anestésicos utilizados
MS-222 (Tricaína Metanossulfonato)
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É o anestésico mais tradicional e aprovado por órgãos internacionais para uso em peixes.
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Atua bloqueando a transmissão nervosa e produz sedação, imobilização e analgesia.
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É indicado para pequenas cirurgias, exames e transporte de peixes.
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Deve ser tamponado com bicarbonato de sódio (2:1) para manter o pH adequado.
Desvantagens:
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Pode causar hipoventilação e hipoxemia.
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Suspeita-se de toxicidade ocular e potencial carcinogênico com exposição repetida, exigindo o uso de luvas.
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Custo relativamente alto e margem de segurança estreita (acima de 200 mg/L pode ser letal).
Alfaxalona
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É um anestésico moderno e seguro, derivado da progesterona, que atua sobre os receptores GABA-A.
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Tem fácil preparo, boa estabilidade e não precisa de tamponamento.
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Pode ser administrada por imersão ou via intramuscular.
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Proporciona uma anestesia rápida, previsível e com boa recuperação, além de apresentar baixo risco de toxicidade para o paciente e o operador.
Efeitos adversos:
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Em altas doses, pode causar hipoventilação.
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Ainda não possui aprovação formal para uso em peixes, mas é amplamente estudada e segura em espécies ornamentais.
🧰 Materiais necessários
Para realizar a anestesia por imersão, recomenda-se montar dois tipos de sistemas:
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Sistema de recirculação:
A solução anestésica é bombeada continuamente para as brânquias e retorna ao reservatório, permitindo um uso mais econômico do anestésico. -
Sistema de não recirculação:
A solução é usada apenas uma vez e depois descartada. É mais simples, indicado para procedimentos rápidos.
Itens básicos:
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Água do próprio tanque do peixe (mantendo pH e temperatura originais).
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Fonte de oxigênio ou bomba de ar.
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Recipientes separados para indução, manutenção e recuperação.
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Pedra difusora, tubo plástico e bomba submersa.
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Espuma ou toalhas úmidas para apoiar o peixe durante o procedimento.
🧪 Exemplo clínico
Um caso relatado envolveu uma carpa dourada (Carassius auratus) submetida a ovariectomia.
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Foi usada Alfaxalona a 15 mg/L em tanque de indução e 5 mg/L no tanque de manutenção.
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O animal permaneceu estável, com frequência respiratória monitorada por observação opercular e frequência cardíaca por Doppler.
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A recuperação foi rápida e sem complicações.
❤️ Cuidados e monitorização
Durante a anestesia, o veterinário deve monitorar:
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Movimentos operculares (respiração);
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Frequência cardíaca (pode ser observada ou medida por Doppler);
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Cor das brânquias e aletas;
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Resposta a estímulos (toque ou compressão da cauda).
Após o procedimento, o peixe deve ser transferido para água limpa e oxigenada, até recuperar o equilíbrio e a ventilação normal.
🧠 Conclusão
A anestesia por imersão é uma ferramenta indispensável na medicina veterinária de peixes.
Entre os fármacos disponíveis, a alfaxalona tem se destacado pela facilidade de uso, segurança e boa recuperação em espécies ornamentais como carpas e peixes tropicais.
Com monitorização adequada e controle dos parâmetros da água, é possível realizar procedimentos cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos com segurança e bem-estar animal.
✍️ Por:
Dr. Roque Antônio de Almeida Júnior
Médico Veterinário – CRMV-SP 23098
Atendimento em domicílio em Mogi das Cruzes e região
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📷 Instagram: @roque_junior_veterinario






